Pois é, leitores, ouvintes e visitantes. O tempo passa tão rápido, que a gente mal consegue registrar, guardar tudo o que realmente importa na memória. Este site criado para disponibilizar o meu trabalho para um possível - e sempre esperado - público completa hoje 16 anos de criação. Manter este tipo de espaço, para um autor independente, é um desafio, tanto quanto é uma necessidade. Em vários momentos, foi neste espaço que encontrei uma forma de dizer o que queria, o que precisava, muitas vezes até mesmo aquilo que não podia.
Eu que sou ainda da era dos blogs, e cheguei a manter alguns antes de concentrar esforços neste site, considero que a missão ainda não foi cumprida. Há ainda muito material engavetado, muita coisa em produção, muito mais gente para atingir. Então, seguimos em frente, por este que já é o ano XVII do site. Pra você que não viu como ele começou, reproduzo aqui a primeira postagem, em 12/09/2006.
Publico hoje um soneto que escrevi há mais de 35 anos, no distante ano de 1986. Chama-se MANIFESTO ÍNTIMO e, devo dizer, depois de tanto tempo ele ainda me representa. Como digo neste soneto da juventude, "- Só não sou, nem serei, mais uma viga / a sustentar o rei, o templo, o quartel ...". Bom ver que o jovem e o já não tão jovem poeta de hoje ainda pensam do mesmo jeito, apesar dos caminhos pelos quais a vida nos leva.
Abraços a todos - aos velhos e novos amigos!
Bastou que eu publicasse o soneto PORÕES DA DITADURA, escrito por mim em 1986, para que alguém, do alto de sua visão certamente parcial sobre o período da ditadura militar, se dignasse a defender o governo daquele período e e minimizar o que foi feito contra quem ousava denunciar ou enfrentar aquele regime. Com o argumento de que viveu aquela época, e que foi feliz, ele embota a visão, se distancia tanto da verdade que o argumento mal se sustenta. Até porque, dizer que os presos, torturados e mortos foram apenas "bandidos" ou "comunistas" deixa claro que tal pessoa não entende que as leis do Brasil não reservam ao estado o direito de torturar ou executar alguém, seja por qual motivo for.
Cada um escolhe a sua forma de lutar contra a opressão, mas deixo claro que, como pessoa pacifista, jamais concordei com qualquer tipo de luta armada. A doutrina ética do hinduismo chamada "Ainsa", tão bem encarnada por Gandhi, através da resistência pacífica e da não violência, é o que me move. Portanto, é impossível ignorar que ações dos militantes e guerrilheiros que sequestraram ou mataram pessoas, civis ou militares, pelo meu ponto de vista também foram reprováveis - ainda que eu compreenda os motivos que os levaram a isso. Vale destacar que essas ações aconteceram em escala muito menor do que os defensores da ditadura tentam fazer crer. E, pela lei, aqueles que as promoveram mereceriam serem detidos, receberem o julgamento justo e imparcial e, se condenados, a prisão pelo tempo determinado. Nada mais do que isso.
Dei um print do referido comentário na página em que publiquei o meu soneto (os comentários são moderados por mim), e escrevi uma resposta que, espero, tenha sido contundente mas não desrespeitosa. Compreendo que muitos estiveram entorpecidos naquele período, ocupados com suas vidas e evitando pensar ou falar sobre o governo. Porém, hoje, com tantas informações apuradas por jornalistas, historiadores, cientistas sociais e políticos, entidades internacionais e até mesmo pela Comissão da Verdade, no Congresso Nacional, não há espaço para o negacionismo histórico. Nem aqui, no meu site, em que publico apenas as coisas em que acredito, com o coração aberto.
Chego a me admirar de pessoas que têm a coragem de fazer esse tipo de comentário, a favor de uma ditadura que tomou o poder à força, destituiu um presidente eleito, fechou o Congresso, forçou pessoas a se exilarem, além de todo o resto de que já tratei aqui. Caso comentários com esse mesmo teor surjam, infelizmente não serão aprovados. Defender ações criminosas do estado é algo que vai contra a política deste site e deste autor.
Somos apenas seres humanos. Sujeitos a erros, a avaliações equivocadas, até mesmo a atitudes vis. Sujeitos a caminhar de olhos fechados, sem perceber o mundo ruir à nossa volta. Tenho uma tristeza enorme de tratar desses assuntos, mas se faz necessário.
Um projeto da artista plástica e ilustradora Amanda Gomes, que está produzindo retratos em aquarela de várias mulheres brasileiras que foram pioneiras em suas áreas, desbravadoras, ativistas e/ou lutadoras pelos direitos das mulheres, tem sua primeira exposição ocupando uma das salas da Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres, em Itaboraí-RJ. A mostra atual tem o conjunto das primeiras dez mulheres, que inclui nomes mais conhecidos, como Maria da Penha Fernandes - que se tornou símbolo da violência contra a mulher - e a educadora e escritora feminista Nísia Floresta, traz também rostos de mulheres que são pouco conhecidas ou que sofreram o processo violento da invisibilização histórica.
Amanda Gomes é filha deste que vos fala, e me convocou para o projeto. Assim, surgiu mais uma série de perfis biográficos, que, assim como os quadros, está em produção. A partir de uma primeira lista de 30 mulheres, proposta por Amanda, chegamos a uma de 50 - em que muitos nomes relevantes talvez tenham ficado de fora. Para a exposição, preparei perfis explicativos curtos, com o básico sobre cada uma delas e, em breve, vou disponibilizar aqui no site os textos ampliados, abrindo o caminho para esta nova série de perfis biográficos.
Desenvolver um projeto ao lado de uma filha é uma bênção, ainda mais sendo ela uma artista plástica tão talentosa. A ideia de dar luz a rostos que nós, enquanto brasileiros, não conhecemos ou não nos lembramos, é fascinante. Esse é um projeto que me empolga. A exposição, que foi aberta em 12 de maio, fica em cartaz até 18 de junho.
A Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres fica no Centro Histórico de Itaboraí, na Praça Marechal Floriano Peixoto, 303. Podem ser feitos agendamentos para visitação guiada, tanto à exposição "Mulheres Pioneiras do Brasil", de Amanda Gomes, quanto a "Vojaganto", de Elpídio Maradona, que ocupa o salão principal do centro cultural. Vale a visita ao sobrado histórico, do início do século XIX, que é o espaço mais democrático para a cultura em toda a região.
Acesse também o ÁLBUM DE FOTOS da exposição
Não é incomum me perguntarem o porquê dos meus sonetos sem rima. Então, para não ser chato ou omisso, vamos lá responder o que pode parecer aleatório, mas não é. Não escrevo sonetos com rima porque, atualmente, não gosto de fazê-los e, sendo minha a poesia, não costumo fazer o que não gosto de fazer. É decisão criativa, que rompo eventualmente quando a rima se impõe e pede passagem.
Aqui cabe uma explicação. Antes de escrever meu primeiro soneto sem rima, acredito que tenha escrito mais de 300 rimados, aprendendo e exercitando a métrica, brincando com a musicalidade e, sempre, buscando uma forma própria de expressão. Reconheço em grandes autores a força da rima e até em muitos dos meus sonetos à moda clássica também.
Dos meus primeiros sonetos, como quase todos poetas fazemos, há várias emulações do estilo desse ou daquele poeta. É natural seguir alguns modelos, buscar a segurança quando se está aprendendo. Mas, longe da angústia da influência, que ocupou a mente brilhante de Harold Bloom, eu sempre quis honrar as influências, cita-las, deixa-las claras e explícitas.
No entanto, a rima começou a me cansar. Mais do que a métrica, a rima sempre me pareceu um limitador quase violento, obrigando a uma musicalidade óbvia, como uma cantiga de crianças. Por mais que o poeta se dedique a fugir das rimas pobres, dos cacófatos ou das obviedades mais marcantes, o jogo parece sempre ter as mesmas peças.
Comecei a brincar com a sonoridade interna dos versos, vez por outra imitando algum mestre, como Shakespeare, Jorge de Lima ou Neruda. Minha verve meio filosófica, com um tempero do surrealismo e do impressionismo, acabou afinando o discurso nesses sonetos sem rima. Hoje, eles surgem. O tema se impõe, a vontade de dizer brota, e escrevo. Simples assim.
É claro que há aqueles puristas, plasmados na sepultura de Petrarca, que não consideram soneto a composição sem rimas. Tive uma polêmica dessas nos meus primeiros dias de Recanto das Letras e cheguei a ser perseguido por um estranho grupo de escritores portugueses, uma espécie de irmandade sinistra dos herdeiros de Camões, com seus conceitos quase medievais, o que me levou a moderar os comentários no meu site. Na época, criticaram meus textos, mas acho que não gostaram da resposta. Daí aos ataques xenófobos foi um pulo. Enfim, polêmica sempre haverá.
Engraçado é que muitos desses poetas puristas, intencionalmente ou não, desrespeitam a métrica, com versos de tamanhos variados. Não me arrisco a dizer que não sabem fazer a métrica de forma correta, como muitos me abordam a respeito da rima. Ou são os mesmos que fazem textos sem a menor poesia (por mais abstrato que o conceito seja), quase uma bula de remédios ou nota de rodapé, em formato de soneto. Aqueles que realmente sabem fazer os sonetos clássicos geralmente acham minha opção por escrever sem rima um “desperdício”, mas respeitam. Uma opinião que também respeito. No entanto, o artista é soberano em seu campo de ação, é ele quem define o que faz e como faz.
A despeito de tudo isso, em pleno século 21, não podemos considerar um grande arroubo modernista fazer sonetos sem rima. Tantos já fizeram que hoje nem é lá uma grande prova de rebeldia. É um recurso estético. Releio o que faço e, como ainda me agrada, continuo fazendo e mantenho no ar. Sem buscar reconhecimento. Sem querer me esconder. Publico porque é de minha autoria, e deixo à disposição de quem quiser ler. Goste ou não.
Publico o link para um dos meus sonetos da fase inicial, em que a rima sempre estava presente, datado de 1986 - um soneto de quatro rimas, com decassílabos heroicos, com um tema que sempre me impressionou e me tocou. Não retiro dele uma única palavra, 37 anos depois. E que sirva de alerta. Clique, leia e comente.
Tenho acompanhado com alegria cada nova postagem no canal do Youtube do meu amigo e parceiro musical Ricardo Mann. Mais do que isso, um irmão que encontrei nessa vida. Começamos nossa história musical na mesma época, na mesma banda, com os mesmos amigos. É claro que a vida foi apresentando rumos diferentes para cada um de nós, mas sempre estivemos em contato, torcendo um pelo sucesso do outro. Ele foi meu padrinho de casamento com Virgínia, a voz da nossa banda lá naqueles tempos e minha companheira de toda a vida. E eu, acreditem, celebrei o casamento dele com Michelle, uma daquelas experiências inesquecíveis.
Sempre encontramos alguma oportunidade para produzir algo juntos - como foi o caso de Brincadeira da Vida, uma das nossas parcerias. Lembro que Oswaldo Montenegro disse certa vez que tinha inveja de quem conseguia escrever uma letra alegre para uma canção - e ele dizia que, finalmente, tinha conseguido isso com a canção "Letras Brasileiras". Bom, para mim, "Brincadeira da Vida" é exatamente o mesmo caso - uma letra sobre felicidade e inocência, sobre viver com o olhar infantil.
Aqui no site publiquei outras canções dessa parceria, mas convido você a conhecer o canal do Ricardo Mann e deixar seu like para "Brincadeira da Vida", nessa versão em dueto, e outras músicas. A arte da capa da canção no canal do Ricardo foi feita a partir de um artesanato de Virgínia (Nina) Gomes. Porque, no final das contas, estamos sempre juntos.
Brincadeira da vida
Música | Ricardo Mann
Letra | William Mendonça
Artesanato | Nina Gomes
Masterização | Felipe Braga
https://www.ricardomann.mus.br/
https://www.facebook.com/ninahgomes.art
Aproveito, também, o lançamento em 26/05/2022 no canal de Ricardo Mann de uma nova versão - aditivada - da nossa parceria "Deus Crioula" para postar aqui o link e convidar você a ouvir. No caso dessa canção, eu musiquei um poema de Ricardo que me chamou a atenção já na primeira leitura. Um título que já é, por si só, um refrão, com tantas leituras possíveis em apenas duas palavras. A nova versão tem o acréscimo de backing vocals e novos timbres de teclado de Ricardo Mann e a bateria certeira de Alessandro Carvalho. No vídeo, que traz a letra da canção, uma foto feita pela nossa amiga e grande poeta Margarida Moutinho. A gente vai mantendo os amigos por perto, mesmo quando estão longe. Curta e aproveite.
Deus Crioula
Música | William Mendonça
Letra | Ricardo Mann
2006
William Mendonça | Voz e violão
Ricardo Mann | Teclados e voz
Alessandro Carvalho | Bateria
Foto | Margarida Moutinho
Modelo | Maju
Design | Ricardo Mann
Foto Ricardo e William | Isadora Arantxa