KURT VONNEGUT
Ficção satírica e desconcertante
Parte de uma geração de escritores que consolidou a ficção científica como a conhecemos, Kurt Vonnegut Jr. talvez fosse um de seus maiores outsiders, alguém que fugia das convenções literárias e que apostava na sátira e até em enredos insólitos. Um caminho em que não foi pioneiro (vide Huxley, em “Admirável Mundo Novo”), mas foi um dos expoentes. Livros como “Matadouro 5” e “Cama de Gato”, certamente, são leituras obrigatórias para quem quer conhecer a melhor produção do século XX.
Descendente de alemães, Kurt Vonnegut nasceu no entre guerras, em 11 de novembro de 1922, na cidade de Indianapolis, nos EUA. Sua infância, como ele mesmo declarava, foi infeliz. Chegou a cursar Química, na Universidade de Cornell, mas foi levado à experiência mais marcante de sua vida: a 2ª Guerra Mundial. Como soldado, depois de ir a combate em 1942, acabou caindo prisioneiro dos alemães. Sobreviveu ao bombardeio de Dresden e voltou à terra natal transformado. Tanto que, anos mais tarde, se opôs à Guerra do Vietnã.
Decidiu apostar no talento para a escrita e entrou para o Chicago City News como repórter. Paralelamente, escreve e lança seus primeiros romances: “Piano que Toca” (1951) e “Sereias de Titã” (1959), sua primeira viagem pela ficção científica, construindo o seu próprio romance no melhor estilo da pulp ficcion, tão popular nos Estados Unidos. Escreveu ensaios, contos e nunca se limitou a um único subgênero.
O pessimismo de Kurt Vonnegut, que claramente não considera a vida humana em sociedade uma experiência bem sucedida, permeia todos os seus textos. Ele chega a brincar com o insólito, como em “Cama de Gato” (1963). Nele, o autor fala de erros que podem levar ao fim do mundo. O protagonista faz uma pesquisa para a biografia do inventor do gelo-nove, produto químico letal capaz de congelar o mundo inteiro. No contato com os filhos do inventor, em uma ilha governada de modo estranho, tudo pode acontecer.
Mas é “Matadouro 5” (1969), uma história com forte componente autobiográfico, o romance até hoje mais significativo do autor. Nele, Billy Pilgrim tem a habilidade de viajar no tempo. O problema é que não consegue controlá-la. Com isso, vive cada fase da vida em diferentes realidades históricas, obrigado a se adaptar ao que acontece. Entre essas experiências, Pilgrim é um jovem soldado lutando para sobreviver na Alemanha nazista.
A escrita de Kurt Vonnegut conduz o leitor por caminhos que fogem do óbvio. Em “Café da manhã com os campeões” (1973), um romance de metalinguagem, uma história de seu alter ego ficcional Kilgore Trout sobre uma realidade em que todos seriam robôs menos o leitor leva o protagonista Dwayne Hoover a um surto psicótico.
O autor se tornou um prestigiado palestrante, hipnotizando plateias com seu humor e sarcasmo. Também não se furtou a ser uma pedra no sapato de presidentes belicosos dos Estados Unidos, como Lindon Johnson, Richard Nixon e George Bush. Nada mal para um escritor que nunca foi um campeão de vendas. Em 11 de abril de 2007, após um acidente doméstico, morreu em Nova Iorque.
(Parte da coletânea
ESCRITORES DE SCI-FI, FANTASIA E AFINS, de William Mendonça. Direitos reservados.)