William Mendonça
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MARIA CLARA MACHADO
e a gênese do Teatro Infantil no Brasil


   Poucas pessoas podem ser lembradas como marco inicial ou decisivo em alguma atividade humana, mesmo que isto se refira a um país ou região específica. Maria Clara Machado é, em muitas maneiras, a gênese do teatro infantil no Brasil, e a história dessa vertente do teatro se confunde com a carreira e a produção da autora e seu teatro-escola pioneiro, o Tablado. Quando morreu, em 30 de abril em 2001, aos 80 anos, deixou uma obra-referência, que influencia e seguirá influenciando gerações de atores, autores e diretores.
   Filha do escritor Aníbal Machado, Maria Clara nasceu em 3 de abril de 1921, em Belo Horizonte. Sua primeira paixão foi o Teatro de Bonecos, para o qual sua contribuição no Brasil também é relevante. Durante a década de 1940, é com os bonecos que Maria Clara Machado se forma como pessoa de teatro. Com a criação do grupo amador Os Farsantes, em 1949, e uma bolsa para estudar em Paris na Education Par les Jeux Dramatiques, dirigida por Jean-Luiz Barrault, ela dá passos decisivos para suas próximas cinco décadas de atividade.
   Ao voltar ao país, Maria Clara chega a se aventurar no cinema, no elenco da lendária Cia. Vera Cruz, mas é em 1951 que funda O Tablado. No grupo, sempre foi a figura central – tanto que dirigiu a primeira peça (“O Pastelão e a Torta”), foi protagonista do espetáculo de mímica “A Moça da Cidade” e fez parte do elenco de “O Moço Bom e Obediente”, tudo isso no primeiro ano de O Tablado. 
   A primeira das 27 peças escritas por Maria Clara Machado para o público infantil, “O Boi e o Burro a Caminho de Belém”, estreou em 1953 e, dois anos depois, chegou ao público o seu maior sucesso: “Pluft, o Fantasminha” (1955). O Tablado, a essa época, ainda era um grupo de teatro, buscando a identidade autoral. Os Cursos Livres de Improvisação, responsáveis pela formação de gerações de atores, surgiram em 1964, e permitiram que o grupo continuasse existindo, após a saída de atores que haviam se profissionalizado.
   Maria Clara esteve na coordenação do grupo até 1999, quando a saúde fez com que ela delegasse a direção a Cacá Mourthé. Também foi professora entre 1959 e 1974, e diretora em 1967, do Conservatório Nacional de Teatro, atualmente Escola de Teatro da Unirio, um dos mais importantes centros de formação de profissionais de artes cênicas do Rio e do país.
   Ao todo, foram 29 peças infantis e cinco para o público adulto. “O Rapto das Cebolinhas”, por exemplo, ganhou o Concurso Anual de Peças Infantis da Prefeitura do Distrito Federal, em 1953. Destaque para “A Bruxinha que era boa” (1954), “A Volta do Camaleão Alface” (1959), “O Cavalinho Azul” (1960), “Maroquinhas Fru-Fru” (1961), “A Menina e o Vento” (1963) e “Tribobó City” (1971).
   É claro que Maria Clara Machado foi a primeira autora do Teatro Infantil no Brasil, mas seu método do ensino, o seu repertório de peças e os livros sobre a arte teatral que deixou fazem dela um marco definitivo.

(Parte da coletânea GENTE DE TEATRO, de William Mendonça. Direitos reservados.)

William Mendonça
Enviado por William Mendonça em 06/05/2019
Alterado em 20/11/2021
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