Pode-se afirmar que duas grandes missões marcaram a vida de Cecília Meireles: a poesia e a educação. Nascida no Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901, Cecília Benevides de Carvalho Meireles teve uma vida de perdas, que se refletiram em seus versos, plenos de filosofia, abordando a passagem do tempo e o sentido da existência. Seu pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e a mãe quando Cecília tinha três anos de idade – a partir daí, Cecília passou a ser criada pela avó portuguesa, Dona Jacienta. O primeiro marido da poetisa, Fernando Correa Dias, um pintor português, sofria de depressão aguda e suicidou-se em 1936, deixando a Cecília outra missão: criar sozinha as três filhas.
Da estreia, com um livro de sonetos chamado “Espectros”, em 1919, até “Ou isto ou aquilo” e “Escolha o seu sonho”, ambos de 1964, ano da morte da autora, Cecília Meireles trilhou o caminho da poesia simbolista à moderna, mesclando elementos clássicos e regionais, assim como manteve a atividade paralela de escrever para crianças. Cecília atuou também como jornalista, escrevendo colunas sobre literatura e folclore infantil no “Diário de Notícias” e no “A Manhã”, dois dos principais jornais da época.
A literatura infantil era uma das áreas de maior interesse para a escritora. Foi autora de “Criança, meu amor”, livro para o curso de 1º grau, de 1923, e de um verdadeiro clássico da literatura didática brasileira, “Problemas da Literatura Infantil”, de 1951, que abrange três conferências ministradas por Cecília Meireles em Belo Horizonte. Formada pelo Instituto de Educação em 1917, ela atuou no magistério por décadas, lecionando (inclusive no exterior) especialmente literatura, folclores, línguas, música e teoria educacional. Fundou a primeira biblioteca infantil do país, em 1934.
As experiências literárias de Cecília Meireles chegaram também ao teatro, com "Auto do Menino Atrasado", que estreou em 1947, com direção de Olga Obry e Martim Gonçalves. Em 1939, publicou o livro “Viagem”, que foi agraciado com o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras. Títulos como “Vaga Música” (1942), “Romanceiro da Inconfidência” (1953), “Metal Rosicler” (1960) e Solombra (1963) construíram uma reputação literária que outra poetisa brasileira ainda não havia alcançado.
Curiosamente, o poeta Olavo Bilac aparece na infância de Cecília. O “Príncipe dos Poetas” parnasianos, que era inspetor escolar no Rio, elogiou o talento da menina, que escrevia versos já aos nove anos de idade. Bilac morreria em 1918, porém, 20 anos depois, Cecília receberia o prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, por seu livro “Viagem”. O prêmio veio um ano depois de sua biblioteca e centro cultural ser fechada em uma ação de censura do governo de Getúlio Vargas – que acusava a escritora de manter no local livros com conteúdo impróprio.
Figurando com importância na segunda fase do movimento Modernista, Cecília gostava de ser chamada de “poeta”, não “poetisa”, que considerava pejorativo. Casada pela segunda vez em 1940, com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo, Cecília alcançou a estabilidade familiar tão ansiada. Em 9 de novembro de 1964, faleceu no Rio de Janeiro.
(Parte da coletânea
HISTÓRIAS DE POETAS, de William Mendonça. Direitos reservados.)