MOLIÈRE
A comédia irresistível
Jean-Baptiste Poquelin era filho de um artesão e rico mercador de tapetes e, como tal, recebeu uma educação privilegiada. Nascido em 15 de janeiro de 1622, em Paris, Poquelin estava destinado a tornar-se o maior nome da comédia em língua francesa. Aos 21 anos, já se dedicava ao teatro, adotando o nome pelo qual ficaria célebre – Molière – e, pouco tempo depois, fundava a companhia L'Illustre Theatre, juntamente com a sua amante Madeleine Béjart.
Mesmo após o fracasso de sua companhia teatral, cuja falência valeu a Molière algumas semanas de prisão, ele não desanimou. Saiu em turnê logo após esses percalços e, em 15 anos de trabalho como ator tornou-se um dos mais populares de sua época. Quando voltou a Paris, com seu grupo, para apresentar-se com a autorização do Rei, acumulava as funções de autor e diretor e fazia muito sucesso, especialmente com o público jovem. Seu texto primava pela ironia, satirizando a sociedade da época.
Molière também pode ser considerado um dos dramaturgos mais prolixos do mundo – chegava a escrever uma peça inteira em poucas horas antes de ser encenada. Seus conhecimentos clássicos transpareciam na estrutura narrativa equilibrada de suas peças e por personagens que, geralmente, encontravam-se diante de um destino que não podiam modificar.
Protegido de Luis XIV numa época de grande poder econômico e político de seu país, Molière mantinha-se fiel aos princípios – criticava a hipocrisia, os beatos, a falsa ciência. Um de seus textos mais reverenciados, “O Tartufo”, só pôde ir à cena cinco anos depois de escrito. De 1655 a 1673, escreveu uma média de duas peças por ano, incluindo clássicos como “As preciosas ridículas” (1659), “A escola de mulheres” (1662), “O improviso de Versalhes” (1663), “O avarento” (1668), “O burguês ridículo” (1670) e “O doente imaginário” (1673).
A morte de Molière aconteceu horas antes de uma apresentação de “O doente imaginário”, em 17 de fevereiro de 1673. O artista, que satirizava até mesmo seus próprios defeitos e manias em favor da comédia, passara os últimos anos de sua vida doente e com dificuldades financeiras. Por sua condição de ator, só pôde ser sepultado em um cemitério destinado aos “não batizados”, já que a Igreja proibia, na época, o enterro de atores em “solo sagrado”. Somente em 1817, os restos mortais de Molière foram transferidos para o cemitério do Père Lachaise, em Paris.
(Parte da coletânea GENTE DE TEATRO, de William Mendonça. Direitos reservados.)