William Mendonça
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Textos

BOCAGE
Do lírico ao satírico

   Um dos maiores sonetistas em língua portuguesa navegava com igual desenvoltura na poesia lírica e na satírica. Manuel Maria L´Hedoux Barbosa du Bocage, nascido em Setúbal, Portugal, em 15 de setembro 1765, participou da Nova Arcádia portuguesa, adotando o pseudônimo de Elmano Sadino. Porém, em pouco tempo, após satirizar os companheiros de movimento, romperia com eles.
   A infância infeliz do poeta foi uma sequência de perdas. O pai foi preso quando Bocage tinha apenas seis anos, acusado de corrupção, possivelmente de forma injusta, e levou quase uma década assim – até que uma mudança de governo o colocou novamente em liberdade. Quando Bocage tinha dez anos, a mãe faleceu. 
   Desde a juventude, o poeta teve vida agitada e possuía um espírito aventureiro. Era boêmio, contra a monarquia e o catolicismo, e fez várias inimizades. Ainda aos 21 anos, alistou-se na Marinha e embarcou para a Índia – estando em Goa, Macau e Damão. Chegou a passar pelo Brasil, aportando no Rio de Janeiro. Discípulo de Camões, o poeta por várias vezes citou paralelos entre a sua vida e a do mestre.
   Irreverente, Bocage ironizava a nobreza e o clero de seu tempo com sonetos satíricos que, muitas vezes, eram recheados de conteúdo obsceno. Foi notável repentista, conhecido por fazer versos de improviso, e, como cita Oscar Lopes, é considerado “o primeiro poeta português que por várias vezes se retratou”, a ponto de ligar seu nome a episódios que fazem parte do anedotário popular.
   A vida de Bocage inclui episódios como a deserção da Marinha, na qual havia se alistado em 1783. O poeta cumpriu três anos de serviço e chegou a ser promovido a tenente, até fugir. Viveu por vários anos em Macau, na Índia, e só retornou a Portugal em 1790. Não bastasse isso, apaixonou-se pela mulher do próprio irmão quando voltou à terra natal, mantendo a sua fama de criador de problemas.
   Em 1797, foi preso e condenado por impiedade, passando pelas masmorras do Limoeiro e da Inquisição, pelo claustro de São Bento e pelo Real Hospício dos Necessitados, dirigido pelos padres oratorianos. O motivo: o poema “Carta a Marília”, que dizia, em seus versos iniciais, “Pavorosa Ilusão de Eternidade, / Terror dos vivos, cárcere dos mortos”. Alguns anos depois, o poeta se retrata e passa a viver conforme as convenções morais e religiosas da época, trabalhando, inclusive, com Frei José Mariano da Conceição Veloso, um frade brasileiro. 
   Bocage, mesmo com sua postura árcade, já lançava as bases do romantismo em sua poesia lírica, marcada pela oposição entre razão e sentimento. Para José de Nicola, “o subjetivismo, a confidência da sua vida interior, a auto-lamentação, a confissão” são as novidades introduzidas por Bocage, que aliadas ao rigor formal de sonetista geraram uma poesia original.
   Publicou em vida “Rimas”, em três volumes. Em 21 de dezembro de 1805, quando faleceu em Lisboa, Bocage dedicava-se a um grande trabalho de tradução (que foi incluído na edição póstuma “Poesias”, de 1853). Sua data de nascimento é feriado municipal em Setúbal, prova do orgulho de sua cidade natal para com o poeta.

(Parte da coletânea HISTÓRIAS DE POETAS, de William Mendonça. Direitos reservados.)

William Mendonça
Enviado por William Mendonça em 26/10/2008
Alterado em 29/05/2021
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