William Mendonça
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Textos

RIMBAUD
E seus dois momentos

   Houve uma época, especialmente no movimento Romântico de meados do século XIX, em que se dizia que o bom poeta morre jovem. Arthur Rimbaud, poeta francês nascido em Charleville, a 20 de outubro de 1854, não morreu jovem, mas sua poesia sim. Explica-se: em um curto período, compreendido entre sua adolescência e os seus vinte anos, Rimbaud produziu uma das obras poéticas mais originais e intensas da literatura universal, seguindo a trilha simbolista de Baudelaire e sendo o precursor do surrealismo literário. 
   No entanto, em 1874, ao concluir os manuscritos de “Iluminuras”, o jovem rebelde, que vivera aventuras intensas, largou a poesia para sempre, dedicando a vida a atividades como o comércio exterior e o tráfico de armas, sempre envolto em longas viagens. O que teria levado Rimbaud a viver dois momentos tão distintos em sua vida, talvez só ele mesmo pudesse explicar. 
   Para muitos, a mudança seria resultado do fim conturbado da relação com o também poeta Paul Verlaine, 10 anos mais velho, que havia patrocinado a viagem do jovem poeta a Paris e a divulgação de seus poemas. Verlaine, que antes era casado, abandonou mulher e filho por essa paixão. Instável, a relação acabou mal, em 1873, quando Verlaine atirou duas vezes contra Rimbaud, em um hotel em Bruxelas, na Bélgica, e acabou preso.
   O fato é que a precocidade literária de Arthur Rimbaud, que ainda na escola escrevia versos em latim, assombrando os professores, veio à luz em 1870. No ano seguinte, escreveria uma das obras mais marcantes daquele século, o “Soneto das Vogais”, que influenciou toda uma geração de poetas. Em 1873 concluiu “Uma temporada no inferno”, mas, desestimulado, abandonou a edição com os impressores. O próprio livro “Iluminuras” só foi publicado 12 anos depois de escrito.
   Pode-se dizer que o espírito rebelde de Rimbaud na juventude, quando chegou a fugir de casa algumas vezes e a ser preso, além de ter se envolvido com drogas, o acompanhou por quase toda a vida. Em uma dessas fugas de casa, foi parar em Paris, durante o período da Comuna, primeiro governo operário na Europa, que durou pouco mais de dois meses em 1871. A empolgação de Rimbaud pela Comuna de Paris não durou muito, ele mesmo autoconsiderado um anarquista.
   Um volume com as cartas trocadas pelo poeta dá pistas sobre os dois momentos de Rimbaud. “Correspondência” traz textos datados da adolescência e juventude do poeta, até cartas dos seus últimos dias, que contam suas expedições pela África e outros continentes. Sobraram 21 cartas do período do Rimbaud pop star da literatura e 194 do período que vai de 1876 até a sua morte, quando ele viveu de viagens e atividades arriscadas. 
   Mais que um poeta, Rimbaud acabou tornando-se um mito, envolvo em polêmicas e idealizações. Mas a poesia, que certamente superou o poeta neste caso, foi meteórica, intensa e marcante ... Em 10 de novembro de 1891, quando morreu de câncer em Marseille, Rimbaud talvez fosse apenas a sombra do homem, por trás do brilho de uma obra poética.


(Parte da coletânea HISTÓRIAS DE POETAS, de William Mendonça. Direitos reservados.)

William Mendonça
Enviado por William Mendonça em 13/09/2008
Alterado em 15/05/2021
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