DIA NUBLADO
O sol interrompe meu dia nublado
Na frágil certeza que pode fazê-lo.
Assim nem percebe que as nuvens, coitado,
Já tudo ocuparam, dos pés ao cabelo.
Da pouca luz, fogem crianças e o gado
Que dei ao destino com tanto desvelo
Enquanto preservo um jardim não regado
Apenas por esta manhã cor de gelo.
Colheita de nuvens, ramagem tão parca,
Pedi que surgissem celeiros de vento,
Que Deus esculpisse no tempo uma marca.
Mas, cinza virando o mais puro ornamento,
O breu traz nas ondas talvez uma barca
E o sol se recolhe em seu longo lamento.
Terça, 15 de abril de 2025
(Um soneto em arte maior - versos endecassílabos)