William Mendonça
POESIA, PROSA, MÚSICA E TEATRO
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Textos

GUIDO CREPAX
O mestre do erotismo nos quadrinhos

 

   Seria mais justo definir o grande nome dos quadrinhos eróticos Guido Crepax pelas heroínas de suas histórias – que povoaram a imaginação e os sonhos de leitores em todo o mundo, mas também foram importantes faróis da liberdade sexual nos anos 1960 e 1970 na Europa. Crepax criou Valentina, sua heroína definitiva, em 1965, e dedicou trinta anos de sua longa carreira a produzir HQs em que ela brilha, em meio a um enquadramento cinematográfico e ao traço elegante. Mas não foi fiel a ela – também deu vida nos quadrinhos a Bianca, Belinda, Justine, Emmanuelle e outras mais.
   Por muito pouco, Guido Crepas – nome de batismo – não se tornou músico. Nascido em Milão, na Itália, a 15 de julho de 1933, ele conviveu com a música desde o berço e, não por acaso, cita jazz, ópera e clássicos, especialmente em seus últimos trabalhos nos quadrinhos. O pai, Gilberto Crepas, foi um famoso violoncelista, que fez parte da orquestra do Scala de Milão e, posteriormente, se tornou professor no tradicional conservatório da cidade. O irmão mais velho de Guido, Franco Crepax, teve carreira de sucesso no mercado fonográfico.
   Guido Crepax formou-se em Arquitetura na Universidade de Milão, mas se dedicou à ilustração. No início de carreira, na década de 1950, chegou produzir capas de discos para álbuns de jazz, além de trabalhos como designer de publicidade, sendo premiado por uma campanha para a Shell em 1957. Já no ano seguinte, começaria a publicar HQs, na revista Tempo Medico. Sua criação mais famosa surge como coadjuvante em 1965, na HQ "Neutron", logo no início de sua passagem pela revista Linus.
   A presença de Valentina na cultura pop, a partir da Europa, se tornou impossível de ignorar, ainda que o erotismo completo e complexo que apresente ainda não estivesse na moda. Com uma linguagem gráfica muito próxima aos storyboards dos filmes do cinema, Valentina mergulha plenamente em sua sexualidade, em situações insólitas, muitas vezes violentas, em relações hétero, homo ou bissexuais, que se realizam grande parte em um universo sadomasoquista. 
   A personagem seria baseada na atriz Louse Brooks, que fez sucesso no cinema mudo. Além da Linus, Valentina foi publicada nas revistas Corto Maltese e Comic Art, na Itália, além da Charlie Mensuel, na França, e em vários álbuns. Também teve adaptações para o cinema e série de TV. Enquanto produzia Valentina, Guido Crepax se entregava também a adaptar alguns clássicos eróticos, como “Justine”, do Marquês de Sade, “"História de O", de Pauline Réage, e "Emmanuelle", que foi sucesso no cinema, baseado no romance homônimo de 1967, de Emmanuelle Arsan.
   Suas outras criações originais mais famosas também surgiram no final dos anos 1960: Belinda, uma sensual heroína motoqueira em uma fábula rock, que estreou em "Belinda Contro i Mangiadischi", e Bianca, que se envolve em diversas situações sadomasoquistas, e teve suas histórias produzidas por mais de 20 anos. 
   Incansável, trabalhando individualmente e longe do sistema industrial dos quadrinhos americanos, Crepax se destacou. O artista morreu em 31 de julho de 2003, na mesma Milão que o vira nascer. Ele sofria de esclerose múltipla. 

 

(Parte da coletânea FERAS DOS QUADRINHOS, em produção, de William Mendonça. Direitos reservados.)

William Mendonça
Enviado por William Mendonça em 13/07/2023
Alterado em 13/07/2023
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