William Mendonça
POESIA, PROSA, MÚSICA E TEATRO
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Textos

HENFIL
A consciência crítica de uma sociedade doente

 

   No tempo em que produziu sua obra marcante, e ainda presente, o cartunista e escritor Henfil nunca teve medo de agir como uma espécie de consciência, cheia de acidez e virulência, da sociedade doente em que vivia. Sua carreira e personagens surgiram no tempo da ditadura militar, que atropelou a democracia, calou vozes, torturou e matou brasileiros. Mesmo obrigado a passar anos fora do país, foi para denunciar os males do Brasil que surgiram Graúna, Zeferino, Caboco Mamadô e os Fradinhos.
   Henrique de Souza Filho era mineiro de Ribeirão das Neves. Nasceu em 05 de fevereiro de 1944. Na família, uma condição genética – a hemofilia – marcaria a vida não apenas de Henfil, como também de seus irmãos homens, o sociólogo Herbert de Souza (Betinho) e o cantor e compositor Chico Mário. Em menos de dez anos, Henfil e os irmãos morreriam, vítimas de complicações da infeção pelo HIV, contraída nas necessárias transfusões de sangue.
   A hemofilia, que deixou o menino Henrique acamado ou internado por longos períodos, além de complicar sua vida escolar (formou-se em um supletivo noturno e cursou a faculdade de Sociologia por pouco tempo), também o levou a usar o desenho como forma de expressão. O mundo, nos olhos de Henfil, tinha outros contornos. Depois de empregos banais, como contínuo e até embalador de queijos, ingressou na imprensa. Em pouco tempo, estava produzindo tirinhas e ilustrações, já no início da década de 1960, na Revista Alterosa.
   E foi lá que surgiram seus Fradinhos Baixim e Cumprido, marcados pela economia de traço e o humor ácido, disruptivo. Em 1965, já era caricaturista do Diário de Minas e, em 1967, migrou para o Rio de Janeiro, como chargista do Jornal dos Sports. Em 1969, entrou no Jornal do Brasil e no Pasquim, verdadeiro fenômeno editorial de resistência à ditadura, que reunia gente como Ziraldo, Millôr Fernandes e Jaguar.
   Seus personagens não deixavam qualquer hipocrisia de pé. Desde a sexualidade doentia de seus frades e o coronelismo no sertão brasileiro, denunciado por Zeferino e sua turma, até as celebridades supostamente coniventes com o regime militar, enterrados pelo Caboco Mamadô no Cemitério dos Mortos Vivos, Henfil botava o dedo nas feridas. A polêmica mais famosa, após o “enterro” de Elis Regina, acabou vivendo uma redenção após a cantora gravar “O Bêbado e a Equilibrista” (de João Bosco e Aldir Blanc), verdadeiro hino da anistia, que homenageava Betinho, irmão do cartunista.
   Exilado no Chile, migrando depois para os Estados Unidos (onde chegou a produzir e publicar seus cartuns), Henfil produziu na revista IstoÉ uma espécie de diário daqueles tempos sombrios, com suas “Cartas à mãe” (1977-1984). Escreveu livros e peças de teatro, dirigiu o filme “Tanga, deu no New York Times” (1987) e teve um quadro de sucesso na TV Globo. 
   A AIDS, que assolou o mundo nos anos 1980, trouxe mais um complicador para a vida de Henfil, já que as transfusões de sangue ainda eram um veículo para a transmissão do HIV. O cartunista morreu em 04 de janeiro de 1988. Seu legado é mantido hoje pelo filho, Ivan.
 

(Parte da coletânea FERAS DOS QUADRINHOS, em produção, de William Mendonça. Direitos reservados.)

William Mendonça
Enviado por William Mendonça em 15/06/2023
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