O GRITO
Escrevo o verso derradeiro e sinto
que todo o tempo é costurado em tramas
que não se tecem, mas se rompem entre
vozes de espectros frágeis, não nascidos.
Não haveria desespero assim,
que consumisse toda a luz de um dia,
se meu soneto se bastasse em si,
ou se a poesia fosse pura inércia.
Sei que palavras morrem, ventos passam,
certezas traçam mapas discutíveis
por entre a névoa cada vez mais densa.
Sei que, se dominado, meu espírito
perder esta ancestral capacidade
de gritar, nunca mais serei ouvido.
(Soneto da safra de 2019. Direitos reservados.)
William Mendonça
Enviado por William Mendonça em 26/09/2019
Alterado em 20/05/2021