INTOLERÂNCIA ZERO
Desde os anos 90, quando o então prefeito de Nova Iorque, Rudolph Giuliani, levou até as últimas conseqüências uma política de “tolerância zero” contra a criminalidade – punindo de forma exemplar não apenas os grandes, mas também os pequenos delitos – com ótimos resultados no combate à criminalidade, essa expressão tornou-se popular e de uso corrente. Virou até bordão de personagem de humor, o “Saraiva”, na época interpretado por Francisco Milani.
“Tolerância zero”, em última instância, significa que o governo levará o cidadão a cumprir a Lei, mesmo aquelas que “não pegam”, tão comuns no Brasil. O governo nova iorquino punia com igual rigor o transeunte que atravessava fora da faixa e o motorista que avançava o sinal vermelho, a pessoa que jogava lixo na rua e o traficante de drogas. Para crimes e infrações, punições – simples assim. Por incrível que pareça, Giuliani tornou-se extremamente popular com essa medida e deu um jeito na sempre presente desordem urbana em sua cidade.
A partir daí, não foram poucos aqueles que aproveitaram a idéia da “tolerância zero” para diminuir a desordem. No Rio, o prefeito Eduardo Paes usa desse expediente em várias ocasiões. No Estado, a Operação Lei-Seca segue também essa linha. Nada de jeitinho: dirigiu embriagado, carro apreendido e multa.
Nos dias atuais, talvez já seja o momento de se criar o movimento “Intolerância Zero” que, ao contrário do que parece, não quer dizer o oposto de tolerância zero. “Intolerância Zero” significa agir com absoluto rigor contra os chamados crimes de intolerância, como a injúria racial, a discriminação por orientação sexual ou religiosa, por etnia ou questões sociais. Isso porque crescem diariamente os casos de racismo, preconceito religioso contra grupos minoritários, crimes de homofobia, etc.
Ainda há no Brasil uma certa tolerância às atitudes discriminatórias. As condenações são raras e mesmo os meios de comunicação são utilizados por segmentos da sociedade para disseminar o preconceito. Na internet, que é uma verdadeira terra de ninguém, falar mal de negros, homossexuais, nordestinos, praticantes das mais variadas religiões, é quase um hábito. Todo mundo dá a sua opinião, mas poucos se preocupam com o estrago que ela pode causar.
A intolerância é culpada pelos maiores crimes da humanidade, massacres, guerras, há milênios. É culpada, também, pelos crimes que são cometidos em pequena escala, contra quem está ao seu lado, sob o disfarce da piada, sob a capa da predestinação divina, mas que marcam a vida de quem sofre o preconceito para sempre.
Para a paz e a boa convivência, é preciso aceitar que o outro pense diferente de nós, porque o mundo é feito da diversidade.
(Publicado no JORNAL ITABORAÍ de 21/01/2013)