VIVER EM SOCIEDADE
Chega a ser absurda a forma como praticamente todas as pessoas, em algum momento da vida ou na rotina diária, se esquecem que vivem em sociedade. Mesmo passando pelas pessoas na rua, nos condomínio, nos shoppings, normalmente não temos a consciência de o quanto as vidas de todos em uma sociedade estão interligadas. Mal nos damos ao trabalho de dizer as “palavras mágicas”, que, antigamente, eram ensinadas às crianças – “obrigado”, “bom dia”, “desculpe”, etc. É como se a multidão fosse feita apenas de milhões de individualidades que não se entrecruzam, como se todos fossem ilhas.
Mas a vida ensina lições sobre o que é, de fato, viver em sociedade. Em grandes tragédias climáticas, como tempestades, tsunamis, terremotos, o ser humano, repentinamente, ganha consciência da coletividade. Quem não é afetado pela tragédia, mas ainda possui um olhar mais amplo para as coisas, de um jeito ou de outro, acaba se sentindo no dever de ajudar. Nessas horas, as campanhas de doação de alimentos, roupas e até dinheiro ganham força – e mostram o quanto a solidariedade ainda resiste.
No entanto, nas ações diárias, muitas vezes contribuímos para que essas tragédias aconteçam. A ecologia tem muito a ver com essa questão: desmatar, fazer queimadas, jogar lixo nas encostas ou nos rios, despejar esgoto em córregos ou diretamente no mar sem tratamento, queimar gasolina em seu carro podendo utilizar um combustível menos poluente, desperdiçar água potável, são algumas atitudes que às vezes tomamos sem ter a consciência de o quanto afetam a sociedade.
E há coisas ainda menores, quase imperceptíveis, que demonstram a nossa pouca consciência da vida em sociedade, como jogar o lixo nas ruas ou da janela dos carros, furtar energia ou água sabendo que a “conta do gato” vai ser rateada entre os que pagam regularmente pelo consumo, dar aquela “ajudinha” ao agente público para que ele “facilite” a sua vida, não ceder o lugar no transporte para o idoso ou o deficiente, furar filas – enfim, ações individuais que afetam o clima geral de uma sociedade.
Muitas vezes um brasileiro em viagem ao exterior é surpreendido com a forma bem ajustada em que outra cultura se relaciona. O caso clássico talvez seja o povo japonês (tão diferente do brasileiro) com sua ética rígida, o respeito aos idosos, a eficiência nos serviços públicos (ao ponto de se recuperarem em tempo recorde de uma tsunami e um acidente nuclear), o respeito aos limites individuais, a ponto de não aceitarem gorjetas, tão comuns por aqui. É claro que não existe sociedade perfeita e, sabe-se, o papel da mulher na sociedade japonesa ainda é de relativa inferioridade, mas, a julgar pela evolução do povo, é bem possível que isso seja solucionado em pouco tempo.
Viver em sociedade é um aprendizado constante, mas ter a consciência de que a sua liberdade acaba quando começa a dos outros já é um bom começo para a convivência.
(Publicado no JORNAL ITABORAÍ em 14/01/2013)