O BRASIL NA BERLINDACopa e Olimpíada expõem o jeitinho
brasileiro de fazer (mal) as coisas
Já faz algum tempo, uma certa malta de líderes políticos – prefeitos, governadores, presidentes (as) e seres menores – vêm falando da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016 como se fossem a panaceia universal, ou, pelo menos, a solução para os problemas brasileiros. Com um prazo bastante razoável para realizar os dois maiores eventos esportivos da Terra (em média, 7 anos), o Brasil segue a sua maior tradição cultural: deixar tudo para a última hora.
Com isso, o que, no discurso populista de políticos e dirigentes esportivos, poderia deixar um “legado positivo” para os brasileiros, tem grandes chances de se transformar em mais um vergonhoso show de improviso e superfaturamento. Ao invés de aprender com os erros do Panamericano de 2007, o Brasil está cometendo os mesmos, e inventando novos jeitos de errar.
No caso da Copa do Mundo, faltando pouco mais de dois anos para a bola rolar (e com um evento teste, a Copa das Confederações, já no ano que vem), a sensação é de que só a intervenção divina pode salvar o país de um vexame. As obras dos estádios começaram com atraso e seguem, aos trancos e barrancos, em meio a greves e denúncias de exploração de mão-de-obra. A questão é que, para a Copa, os estádios são apenas a ponta do iceberg de investimentos e melhorias a serem feitos.
Simplesmente, não é possível realizar um evento com dez ou 12 sedes em um país maior que a Europa sem algumas coisas básicas: transporte e rede hoteleira, segurança pública e mobilidade urbana – só para listar as mais óbvias. Pois nenhuma das obras em aeroportos e portos brasileiros, previstas para antes da Copa, deverá estar plenamente concluída até a abertura do evento. De fato, muitas nem começaram.
O sistema de transporte nas cidades sede continua caótico e viajar pelas estradas brasileiras, sejam francos, é algo que só o motorista brasileiro consegue. Hotéis de qualidade não nascem da noite para o dia e a segurança pública é um desafio – e com as polícias fazendo greve em todo o país, fica claro que ainda há muito por fazer.
A urgência para que a organização da Copa mostre resultados é desesperadora. Os dirigentes da Fifa, a cada inspeção, reclamam mais. O chamado Comitê Organizador – que com a saída do todo-poderoso Ricardo Teixeira ficou a cargo de seu sucessor e uma série de fantoches, como Ronaldo Fenômeno e Bebeto, ex-jogadores – é um fiasco.
Diga-se de passagem, a imprensa séria brasileira, mesmo apoiando, em tese, a realização da Copa no Brasil, sempre alertou para o risco de que a incompetência e a corrupção tornassem o sonho em um pesadelo. Até mesmo a Lei Geral da Copa – que deveria garantir que as regras da Fifa fossem lei durante o evento – virou campo de barganha e jogo político, com políticos exigindo ingressos gratuitos para idosos, crianças, índios, deficientes, beneficiários do Bolsa Família e quem mais votar.
A Olimpíada, no quesito logística, a princípio, poderia ser mais simples, por ser um evento centralizado em uma única cidade. Entretanto, por envolver dezenas de modalidades desportivas e milhares de atletas, o desafio é grande. Há um clima mais favorável ao sucesso da Olimpíada, pois a cidade está fazendo obras de infra-estrutura, como o chamado “Porto Maravilha”, e mudanças no sistema de transporte. Porém, a quatro anos do evento, não se vê grande progresso nas instalações desportivas e na Vila Olímpica.
A mídia internacional duvida claramente da capacidade do Rio em promover os jogos olímpicos – e, sejamos francos, uma cidade que não consegue acabar com tragédias urbanas como as explosões de bueiros, desabamentos de prédios, panes nos trens e metrô, atrasos nos vôos, corrupção política e policial, deve mesmo ser questionada, principalmente pelos próprios cariocas.
O próximo prefeito do Rio de Janeiro, que será eleito em 2012, vai governar a cidade durante a Copa e a Olimpíada – portanto, este é um dos cargos mais valorizados nesta década. Entre populistas, criadores de factóides e candidatos plantados por partidos que apenas buscam poder, a população terá que escolher o melhor – ou o “menos pior”, provavelmente.
O Brasil terá, em dois anos, a oportunidade de decidir qual lugar quer ocupar no cenário internacional – uma nação responsável e desenvolvida, que leva a sério seus compromissos e faz o seu melhor, ou o país do improviso, que sempre dá jeito de enganar a arbitragem para ganhar o jogo.