Um dos últimos episódios da série CBN da Minha Vida, espécie de podcast feito pela Rádio CBN para marcar a passagem dos seus 32 anos de criação, teve a minha participação. Ouvinte de rádio desde o berço, sou também ouvinte da CBN desde 1991 - ainda que, no início, tenha ficado bastante chateado porque a nova emissora ocupou as frequências de duas das únicas rádios só de música no AM, a Eldorado (1180 AM) e a Mundial (860 AM).
Fonte de notícias e com análises críticas de diversos jornalistas de primeira linha, a CBN auxiliou em meu trabalho jornalístico, em vários períodos. Lembro da famosa "rádio-escuta" para O ITABORAHYENSE, no breve, mas saudoso período em que o centenário jornal circulou diariamente, em 1993. Duas décadas mais tarde, em 2013, o desafio de implantar o projeto para outro jornal diário (o JORNAL ITABORAÍ / DIÁRIO DO LESTE) contou com aquela análise do que se fazia na CBN. Até mesmo o Manual de Redação da emissora auxiliou no processo. Foram seis anos em que ouvir a rádio me ajudou, diariamente.
No episódio que foi ao ar no dia 26/10, e que ainda pode ser ouvido no site da CBN, falo sobre o mais recente acontecimento em que a capacidade de cobertura da rádio me surpreendeu: o fatídico dia 8 de janeiro de 2023, com a espiral de violência que levou à vandalização dos prédios-sede do Judiciário, do Legislativo e do Executivo, em Brasília. Eu estava ouvindo a rádio, em um domingo sem esportes, quando percebi claramente que o tom da cobertura tinha mudado. A apresentadora Nadedja Calado se desdobrou por seis horas, encarando certamente a maior e mais inesperada missão de sua carreira até ali.
À noite, já sob apresentação de Marcella Lourenzetto, até mesmo o apresentador e comentarista de política Carlos Andreazza, que tinha entrado de férias naquele fim de semana, surgiu ao vivo, falando já de seu destino de viagem sobre o que ocorria. Repórteres se espremiam no meio da turba que nunca tem muita simpatia pelos jornalistas (sei bem disso, acreditem). Eu, que sempre quis fazer rádio mas tive minha carreira inteira no jornalismo impresso, pensei cá com meus botões: é bom ser ouvinte, mas se eu ainda fosse repórter ...
Enfim, fica aqui a minha singela homenagem aos meus colegas de profissão que fazem do rádio um veículo de comunicação que, constantemente, se reinventa. E registra a História no momento exato em que ela acontece.
Em tempo: volto a essa postagem no dia 06/11, quando soube da notícia da demissão de Carlos Andreazza da CBN, em mais um dos "cortes" que o Grupo Globo se notabilizou em fazer. Justo Andreazza, o personagem que lembrei neste podcast por interromper as férias porque um fato exigia sua presença enquanto jornalista.
Nessas demissões que surgem do nada, há uma grande falta de respeito com o público e, obviamente, com o profissional, que luta diariamente para fazer seu trabalho e performar bem na audiência. No jornalismo, a cada dia que passa, menos gente (e cada vez mais jovens) faz o trabalho nas redações e microfones. Talvez não percebam os CEOs e gestores que, na verdade, pagam muito pouco, mas muito pouco mesmo, pela capacidade de trabalho e pela experiência de um bom jornalista. Saem perdendo a CBN e nós, seus ouvintes.
Ao Andreazza, os meus sinceros votos de muito sucesso em sua trajetória.