William Mendonça
POESIA, PROSA, MÚSICA E TEATRO
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Meu Diário
12/06/2009 23h55
BALAIO GERAL 12/06/2009

DIA DO MEIO AMBIENTE
Um verdadeiro encontro de amigos. Assim transcorreu o show do Dia Mundial do Meio Ambiente, promovido pela Casa de Cultura em palco montado em frente ao Teatro Municipal João Caetano, no último dia 5. Um público mais de duas mil pessoas prestigiou o evento, que além dos shows, teve também a exibição de vídeos do projeto Circuito Tela Verde, de cinema ambiental e distribuição de material explicativo sobre DST/AIDS.
No palco, a principal atração da noite foi a banda que reúne quatro dos cinco integrantes do Barão Vermelho – Guto Goffi (bateria), Fernando Magalhães (guitarra), Rodrigo Santos (voz, violão e baixo) e Peninha (percussão). Durante o recesso do Barão, que só deve retornar em 2011 para comemorar os trinta anos de carreira, os músicos realizam um trabalho paralelo, tocando de forma descontraída sucessos do rock de todas as épocas. No repertório, Beatles, Rolling Stones, Raul Seixas, Jorge Ben Jor,  Cazuza e, como não podia faltar, Barão Vermelho. O público cantou e dançou, esquentando a noite fria de junho.
Na abertura, a Banda Na Estrada, uma das principais bandas do Rio, liderada pelo vocalista Zé Roberto e com a presença de nomes como Beto Saroldi (sax), Tony Roqueiro (guitarra) e Cláudia Sette (vocal). O repertório de rock e pop foi feito sob medida para animar a festa. Rodrigo Santos, do Barão Vermelho, em participação especial, aproveitou a ocasião para cantar sucessos de seu primeiro disco solo, como “Nunca desista do seu amor”.
No final do evento, bandas locais mantiveram a animação do público. O Dia Mundial do Meio Ambiente é uma data que marca a importância da consciência ecológica e, com o aumento dos efeitos do aquecimento global e a urgência para que se tome medidas contra o desmatamento e a poluição, a data ganhou ainda mais importância. Itaboraí realiza o evento em comemoração ao Dia do Meio Ambiente desde 2002 (quando este colunista apresentou o texto “A máquina do tempo”, que você encontra neste site), com produção do gestor da Casa de Cultura, Sérgio Espírito Santo, e equipe.

DEMOREI MAS VI, E GOSTEI
Demorei pra caramba pra assistir “Star Trek”, o filme de J. J. Abraams, que é uma espécie de recomeço na saga de Jornada nas Estrela. Vi e gostei – pra ser sincero, no lado mais fã, simplesmente achei o máximo. Se na TV Star Trek sempre foi sinônimo de saga, dando origem a várias séries e a personagens que tinham anos para se desenvolver de forma completa, no cinema sempre ficou devendo. Comparado a Star Wars, superproduções de George Lucas, sempre Star Trek esteve inferiorizado. Seus melhores filmes, como “A ira de Kahn” (2º), “A volta pra casa” (4º) e “Primeiro contato” (8º, já com a tripulação da Nova Geração), eram bom cinema, transpunham as séries com qualidade para a telona, mas não eram “o máximo”. Mesmo sendo uma franquia extensa, não vinha muito bem das pernas – pouca gente assistiu “Star Trek Nemesis”, o filme anterior, no cinema.
Mas o “Star Trek” é um prato cheio para quem gosta de cinema, para quem gosta da série e até para os discípulos de J. J. Abraams por seus trabalhos em “Lost”, “Alias” e “Missão Impossível 3”. É um verdadeiro início de saga, com atos de heroísmo, um vilão vingativo, viagens no tempo, efeitos especiais de tirar o fôlego e ação, muita ação. Não é um filme cerebral de ficção científica, é o que se classificaria em literatura de “space opera”. Você se agarra na cadeira desde a destruição da U.S.S. Kelvin e o nascimento de Kirk, no início do filme, até a última reviravolta, em que a tripulação da Enterprise mostra realmente de que, e de quem, é feita. As concessões feitas para reunir alguns personagens ali, um pouco antes do tempo em que tudo deveria acontecer de fato, podem ser explicadas pela mudança na linha de tempo causada pelo vilão Nero e, assim, ninguém fica pensando mais naquilo. É um show de cinema, e ponto final.

BOAL, ADEUS!
Mesmo com grande atraso, não posso deixar de comentar aqui sobre a morte de Augusto Boal, que ocorreu no início do mês passado. O criador do “Teatro do Oprimido” era, sem dúvida, o maior nome do teatro brasileiro, respeitado internacionalmente. Um ávido escritor, Boal tem livros basilares para quem quer fazer teatro por aqui, como o próprio “Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas”, “200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de dizer algo através do teatro” e “O teatro enquanto arte marcial”. Não sei se os atores criados através do “Método” de Stanislaviski em escolas como o Actors Studio, dos Estados Unidos, são expostos aos métodos e teorias de Boal, mas tenho convicção de que o Brasil forma atores melhores porque aqui existiu um Boal. Político por excelência, no sentido mais universalista do termo, ele quis fazer uma espécie de inclusão social no teatro, muito antes das políticas que levaram esta idéia a outros setores da vida. O teatro do oprimido é a prova de que qualquer um pode fazer arte, no palco, expondo seus temas e seu espírito para uma platéia. Teatro é isso.

JABOR NO CINEMA
Pois é, muita gente deve estar sentindo falta de Arnaldo Jabor como o irrefreável cronista, nas páginas de O Globo, na rádio CBN e na TV. O ex-ex-cineasta voltou à ativa, mesmo depois de dizer que o cinema não lhe oferecia mais a oportunidade de dizer o que pensa. Está filmando atualmente e, obviamente, tirou férias das outras atividades públicas. Cinema é a verdadeira arte do diretor – é ele quem escolhe tudo, desde os atores até como fica uma cena na versão final do filme. Jabor é um diretor dessa estirpe, um dos melhores do Brasil nos anos 70 e 80. A volta dele é um ponto a favor do cinema nacional, desde que ele não abandone a crônica.

LIVROS, MAIS LIVROS
Pouca gente sabe, mas os caríssimos livros que são lançados todos os dias pelas editoras e viram, ou não, best-sellers, deveriam ser muito mais baratos. Há alguns anos, uma lei reduziu drasticamente os impostos na cadeia produtiva das publicações. A intenção era baratear o produto final e promover uma espécie de democratização do livro. Como no Brasil nada acontece como planejado, os livros continuam caros, inacessíveis à maioria da população, e, pior, a maioria das cidades brasileiras não tem sequer uma livraria ou uma biblioteca pública. De quem é a culpa? Certamente não do escritor, que muitas vezes ganha pouco pelo que produz e disputa a tapa o mercado, tentando ser publicado por alguma editora. Para completar o quadro, o fundo de apoio à leitura criado pela lei, que deveria recolher 1% do faturamento das editoras para criar mecanismos de democratização do livro, como bibliotecas e doações, nem saiu do papel. O Congresso, atolado de medidas provisórias, escândalos e CPIs, ainda não teve tempo de chegar a um acordo sobre o tema. Dizem que isso acontece ainda neste ano. Será?

ATÉ ONDE VÃO OS REALITY SHOWS?
Parece que não tem fim a sede das emissoras de TV pelo mundo afora sobre os reality shows, que eu chamaria de freaky shows de forma mais apropriada. Na TV por assinatura, basta mudar de canal a qualquer hora para esbarrar com um desses – sobre tatuagens, caminhoneiros, roqueiros decadentes, dançarinos exóticos, gente sem estilo na moda, gente querendo casa nova, gente brigando por um emprego com Trump, gente de todo o tipo fazendo todo tipo de coisa, enfim. Na TV aberta, a Record partiu para uma “Fazenda” com famosos de terceira linha, rendendo a jornais de pequeno porte manchetes sobre Mirella, a noiva de Latino (??!!). A Globo está empurrando um programa com a alcunha de “Jogo duro” que consegue ser pior que o BBB e o antigo “No limite” (lembram?). Isso sem contar com os programas com filmagens “verdadeiras”, que deixam as cassetadas do Faustão no chinelo, como os “Vídeos incríveis” do People & Arts ou aquele com perseguições policiais. Com tanta “realidade” na TV, não me admira que tanta gente desista da vida aqui fora.

ZECA PALÁCIO
Deixo aqui minha mensagem de apoio ao amigo Zeca Palácio, o maior diretor de teatro de Itaboraí, um cara que ao longo de mais de 20 anos de vida artística sempre trabalhou formando jovens atores, montando espetáculos marcantes e, nos últimos anos, dirigindo o Teatro Municipal João Caetano. Quero dizer que se hoje, no meio de questões de mudança de governo em que a política muitas vezes supera o mérito pessoal e profissional, ele não está onde merecia por todo o trabalho realizado, o mundo certamente dá voltas e o futuro reserva novas vitórias para Zeca. Ele continua trabalhando, com o apoio e a admiração das centenas de atores com que já trabalhou (eu, inclusive), e isso é o que importa.

APENAS UMA VEZ
Peguei em DVD e assisti hoje o filme “Apenas uma vez” (“Once”, de 2006), sem muita certeza do que iria encontrar. Fiquei atraído pela capa – o cara com um violão ás costas e uma moça. Vi que era algo sobre música e, como não podia deixar de ser, aluguei. O filme irlandês é surpreendente, suave, bonito, um dos melhores que assisti recentemente. O protagonista é simplesmente Guy (um cara), cantor e compositor que, quando não está ajudando o pai em uma loja de aspiradores de pó, está nas ruas tocando seu violão para decolar um trocado. Ele chama a atenção de Girl, uma jovem imigrante checa, que toca piano emprestado em uma loja nos horários de almoço. A parceria improvável vai se formando, enquanto a gente visita Dublin. Há um certo romantismo no ar, mas ela é casada e ele ainda ama a ex-namorada. Com isso, a relação de amor acontece mais na música do que entre os dois. Glen Hansard (da banda irlandesa “The Frames”) e Markéta Inglová são dois músicos que viraram atores para viver esses personagens sem nome no filme de John Carney, que colecionou 14 prêmios, incluindo o Oscar e o Grammy de melhor canção por “Falling Slowly” e o Grammy de melhor trilha. Poucas vezes vi a música se encaixar tão bem em um filme.

Publicado por William Mendonça
em 12/06/2009 às 23h55