Meu último contato aqui, com os leitores do site, foi há quase três meses – no meu aniversário de 40 anos. Pois é, janeiro e fevereiro depois, pouquíssima coisa teria mudado em minha vida, não fossem as cinco úlceras – duas grandes no esôfago e três miúdas no estômago – que deram o ar da graça nesta semana. A dor insuportável, como se tivesse um bicho vivo me comendo as entranhas, me levou ao hospital subitamente.
Em quase cinco anos de trabalho no BB, é a primeira vez em que sou vencido por uma doença e não consigo trabalhar. Fiquei constrangido por deixar meus colegas na mão, em um período difícil, e mais ainda pelos erros que cometi.
Agora, depois de mais de dois dias sem conseguir comer nada, muitas coisas edificantes que te fazem ver o valor real do homem – tipo vômito, diarréia, suores absurdos, dependência total dos outros, hospitais públicos abarrotados, etc – consigo ver minha vida, aos 40, sob nova perspectiva. Talvez fosse o baque, a mudança de que eu precisava, para iniciar uma nova caminhada.
Estou comendo feito um bebê, a cada três horas, com legumes e frutas amassados, vivendo à base de remédios, fraco e tentando voltar ao trabalho antes que o patrão perceba que está bem melhor sem mim, que não faço falta – mas para isso, talvez já seja tarde.
Pelo menos tenho aqui, no site, um espaço para dizer o que sinto e penso. Sinto ainda muita dor e não sei se consigo retornar ao dia-a-dia de estresse que tenho, se bem que esse estresse nem sempre vem do trabalho. Sinto medo de sentir tudo isso de novo. Penso que talvez devesse rever minhas escolhas.
Nessas horas, a família faz toda a diferença. Sem minha mulher e meus filhos, se eu fosse um ermitão, teria me rendido à dor e à tristeza nisso tudo.
Nessas horas a gente pensa em quanto se maltrata ao logo da vida. Minha vida profissional, no jornalismo e no banco, minha forma de me alimentar, meu gosto pelo infalível cafezinho, foram verdadeiras fábricas de úlceras. Agora que elas mostraram a sua cara numa endoscopia e seu poder em uma semana de agonia, sei que vou me comportar melhor.
Em tempo: nem só de dor vive o homem. Na véspera da crise das úlceras escrevi um conto de ficção científica à brasileira, um argumento que surpreendeu até a mim mesmo. Se você já leu até aqui, e ainda tiver um tempo, leia também “O tempo de tudo”. Voltamos em breve.