GRANDES PERDAS
A música, o teatro, o jornalismo e a literatura brasileira estão sofrendo grandes perdas nos últimos meses. Recentemente, foram-se Dorival Caymmi, o cantor Waldick Soriano, o ator Fernando Torres, os jornalistas Fausto Wolf e Fernando Barbosa Lima, e o escritor Alphonsus dos Guimarães. Sabe-se que a morte é o fato inevitável da vida, mas a perda de grandes nomes da arte e da cultura é um peso para uma sociedade tão carente de bons exemplos como a brasileira. Quando se vai um Caymmi, quem poderá substituí-lo?
GIL E A CULTURA
A saída de Gilberto Gil do Ministério da Cultura deveria ter acontecido muito antes, quando ele pediu para sair pela primeira vez, na mudança para o segundo mandato do presidente Lula. Gil trouxe popularidade ao Ministério, deu certa confiabilidade ao setor, mas passou por problemas para administrar sua carreira (a ponto de ter problemas sérios com a voz por, pasmem, discursar demais). No entanto, jornalistas reclamam que o ministro era inacessível para entrevistas. Foi uma boa passagem, afinal Gil é um músico com alma política, um ativista e, portanto, tinha plena condições de tocar um projeto dessa magnitude. Mas nos dois últimos anos, Gil estava claramente pedindo pra sair.
UMA GRANDE CRONISTA
A atriz Fernanda Torres é surpreendente. Desde seu sucesso inicial, com o filme “Eu sei que vou te amar”, nos idos dos anos 80, até os dias de hoje, ela passou de filha de Fernanda Montenegro e Fernando Torres a uma das atrizes mais brilhantes de sua geração. O talento humorístico, comprovado por vários papéis, como a Vani de “Os Normais”, é incrível. A peça “A casa dos Budas ditosos”, sobre texto de João Ubaldo Ribeiro, também é um sucesso há muito tempo. Para completar, Fernanda está batendo um bolão como cronista da Veja Rio. Com sensibilidade e um texto gostoso de ler, ela aborda aqueles temas cariocas com um olhar divertido.
RENATO DE VOLTA
“Renato Russo, a peça”, um dos maiores sucessos do teatro nos últimos tempos, que aborda a vida do cantor e compositor, líder da Legião Urbana, está de volta ao Rio, no Teatro João Caetano. No papel, a verdadeira reencarnação de Renato, o ator Bruce Gomlevsky, com direção de Mauro Mendonça Filho e participação do grupo Arte Profana, que acompanha o cantor nas músicas da Legião. A peça aborda a vida de Renato desde os 15 anos até sua morte, em 1996, e já foi assistida por mais de cem mil pessoas, em 26 cidades do país.
CINEMÃO
De repente, me dei conta de que não vou ao cinema faz tempo. Motivos não faltam: as cidades próximas (Tanguá, Itaboraí e Rio Bonito) não têm cinema; os filmes estão saindo cada vez mais cedo em DVD; o preço das entradas é muito caro, para muitas vezes assistir coisas pouco interessantes. Mas neste mês, quem sabe, vá ver o talento brasileiro nas telonas. “Os desafinados”, de Walter Lima Jr., com a produção do mestre Flavio Tambellini, é um momento imperdível. “Linha de Passe”, que rendeu o prêmio de melhor atriz em Cannes para Sandra Corveloni, também. E o imperdível “Ensaio Sobre a Cegueira”, de Fernando Meirelles, que estréia dia 12, é a transposição para o cinema de um livro do português José Saramago, com Juliane Moore.
COMO SOFRE
O pobre Julio Verne, escritor francês pioneiro na ficção científica, autor de alguns dos maiores clássicos do gênero, deve viver (?!?) se revirando no túmulo. Como sua obra já está em domínio público, várias de suas histórias servem de argumento para filmes ridículos, que alteram nomes, situações, personagens, época, etc, para fazer um show de efeitos especiais. O grande inovador de seu tempo, que sempre escreveu com bom humor, mas não acharia nada engraçado filmes como “Viagem ao Centro da Terra”, mais uma adaptação de um dos romances mais famosos do francês. Os efeitos especiais, pra variar, salvam o filme, que foge do naufrágio graças também ao carismático Brendan Fraser (de “A Múmia”).
BICENTENÁRIO
Importante a homenagem da XV Feira do Livro de Itaboraí ao primeiro grande nome do teatro brasileiro, João Caetano dos Santos, o ator mais renomado do século XIX, que completaria seu bicentenário neste ano. Talvez por nomes como Guimarães Rosa e Machado de Assis estejam dominando as rodas culturais, sendo festejados, e pela passagem de outras datas importantes, como o bicentenário da chegada da Família Real ao Brasil, João Caetano não mereceu grandes homenagens por aí. Nem aquela lembrança no dia 27 de janeiro, nas páginas de algum grande jornal, nem um filme ou uma peça de teatro contando a sua vida – ele foi um verdadeiro pop-star da época, um empresário do teatro, um lutador pela classe artística brasileira. Itaboraí, pelo menos, continua reverenciando a memória deste filho ilustre, que dá nome ao teatro da cidade.
A INTERMINÁVEL MADONNA
Como apenas dez anos mais novo que ela, pude acompanhar desde o início a carreira da cantora Madonna, um fenômeno interminável da música pop. A camaleoa que se reconstrói de tempos em tempos, gerando moda, saindo na frente dos outros na hora de inovar e chocar, completou 50 anos em plena forma, fazendo sucesso e mostrando a habitual competência. Música e show para ela são business, não diversão. A noticia de que ela fará não apenas uma, mas duas apresentações no Rio, mesmo depois de ter evitado a cidade em uma turnê anterior por medo da violência, é prova de que a cidade voltou definitivamente ao circuito internacional. Madonna não é uma artista em fim de carreira (como os Scorpions ou o vocalista do Supertramp, que estiveram aqui também recentemente): é uma estrela pop no auge há mais de 20 anos.
(Coluna publicada no jornal O ALERTA, de Itaboraí)