Meu site ficou sem muito movimento neste ano, e foi uma atitude proposital. Em pouco mais de um ano de atividade, publiquei muita coisa - um bom panorama de tudo o que escrevi ao longo de mais de 20 anos, assim como a produção musical mais recente, em parceria com Ricardo Mann. Ao invés de acrescentar mais textos e músicas, principalmente nos últimos dois meses, deixei que eles ficassem expostos e fossem lidos por outras pessoas.
Enquanto isso, me dediquei a preparar algumas mudanças que colocaria no ar no dia 21 de março, e quem me conhece sabe que isto não seria sem motivo - era o início do novo ano astrológico, e eu levo essas coisas em consideração. Passei dois meses planejando, escrevendo e buscando programas para me auxiliar na tarefa. No dia 15, já estava com tudo arrumado, pronto para implantar as mudanças.
No entanto, no dia 18, que é sempre um dia feliz aqui em casa, pois é o aniversário da minha esposa, recebo a notícia da morte do pai de meu parceiro Ricardo, o grande Peter Mann, uma figura surpreendente. O mundo virou de cabeça pro ar e a felicidade sumiu num telefonema. Pelo que pude perceber, especialmente no último ano, quando tive mais contato com ele, Peter Mann era um homem divertido e que, já pra lá dos 60, conseguia ter um ar infantil em relação a vida, fazendo descobertas, reunindo tudo em sua "cultura útil e inútil", dividindo seu gosto musical com os outros.
Era o tipo de pessoa capaz de passar no meu trabalho - que fica a 60 quilômetros de distância de onde ele morava - apenas pra me dar um abraço, em um dia comum. Surpreendia. Dava flores, roubadas nos jardins do caminho, às mulheres. Coisa antiga, mas surpreendente, nos dias de hoje. Ele fazia os dias ficarem incomuns.
Tenho com ele uma grande dívida, pois era o pai do meu melhor amigo, pai também de André, um cara muito legal de quem gosto muito, e de Isadora, amiga de minha filha Débora. Ultimamente, de pai de meu amigo ele virou, também, meu amigo - afinal, quando a gente fica adulto, as diferenças de 20 ou 30 anos não parecem tão grandes.
Adiei minhas “mudanças imperdíveis” para outro dia, não sei bem quando – as coisas perderam o sentido – e estou de luto. Mas tenho esperança, porque não consigo perder a crença em uma outra vida. Não conseguiria ver justiça na existência humana quando um homem absolutamente bom como Peter Mann morre de maneira tão sem sentido, como um atropelamento no meio da noite, e tanta gente nociva e venial, criminosos, políticos corruptos, mentirosos, hipócritas, continua por aí, viva e feliz, desfrutando de seus crimes e mentiras, se não acreditasse que a morte é uma passagem, se tivesse a certeza de que há algo bom reservado aos bons.
Não vou dizer que acredito no céu dos anjos, nem no paraíso de Dante (sim, não havia só inferno na Divina Comédia), mas acredito na sobrevivência do espírito e na reencarnação, que para mim são partes fundamentais na evolução humana de sua condição tão transitória e efêmera. Já perdi a ilusão de fazer com que as outras pessoas acreditem nisso, porque para essa dor não há consolo. Perder o pai, ou a mãe, ou um filho, eu sei, não tem consolo – acho que só me sobra a emoção solidária de sofrer com meu amigo, se é que isso serve a alguma coisa.
Penso nas vezes em que podia ter feito por Peter Mann um pouco do que ele fez por mim – quem sabe, uma visita surpresa em sua casa, um sorriso, um telefonema – e me entristeço vendo o quanto a gente adia as coisas realmente importantes da vida, na ilusão de que o tempo “vai dar” pra fazer tudo.
Não deu pra dizer adeus ...